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A pioneira experiência de aplicação sistemática da psicologia à organização do trabalho aconteceu do ponto de vista prático em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, contando com a direção do engenheiro suíço Roberto Mange
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Roberto Mange
Em 1930, foi criado o Curso de Ferroviários de Sorocaba e o Serviço de Ensino e Seleção Profissional da Estrada de Ferro Sorocabana. A partir de então, a aplicação da Psicologia ao trabalho teve acelerado desenvolvimento, expandindo-se para um grande número de empresas (Antunes, 1991). O cenário político-econômico brasileiro era composto pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas (1930-1945) e pela mudança de um modelo de economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial.
●Até o governo do General Dutra (1946-1950), a preocupação das diretrizes educacionais estava voltada para um acentuado compromisso com o preparo das elites, tendo sido apenas a partir da década de 40 que a atenção de cunho pedagógico se voltaria para o atendimento dos contingentes que se formavam nos centros urbanos. Defender a educação como direito de todos acabou encontrando sua contrapartida na hipótese de que as pessoas não se encontravam igualmente dotadas pela natureza para se beneficiarem da oportunidade concedida pelo Estado. A fim de justificar essa conclusão, os testes psicológicos, embasados por uma fidedignidade científica, passaram a ser amplamente utilizados.
●O ISOP, Instituto de Seleção e Orientação Profissional, criado em 1947, objetivava basicamente contribuir para o ajustamento entre o trabalhador e o trabalho, partindo de um acompanhamento científico voltado para o estudo das aptidões e vocações do trabalhador e dos requisitos psicofisiológicos exigidos pela modalidade de trabalho. Em seus dez primeiros anos, a instituição desenvolveu um trabalho focado na implantação de técnicas de seleção e orientação profissional; atendendo inicialmente à classe média alta, visando orientar a futura elite dirigente.
●A instalação do ISOP no Rio de Janeiro teve grande importância para a implantação do Serviço de Orientação e Seleção Profissional (SOSP) em Belo Horizonte. O principal objetivo do SOSP era o de orientar vocações no meio escolar, delimitando critérios para a seleção de pessoal destinado à administração pública, assim como também organizações particulares. Foi o primeiro instituto no país sob responsabilidade governamental, tendo sido dirigido e supervisionado pelo Professor Bessa, que era orientado pelo diretor do ISOP, o espanhol Mira y Lopez (Goulart, 1985).
●Ao exame dessa abordagem das origens da Orientação Profissional no Brasil, é interessante observar que ela se constitui no início do século XX como uma modalidade estritamente psicométrica. Seus mais comprometidos defensores foram os empresários e os engenheiros, pioneiros nesse campo de atuação. Na época, a formação de psicólogos se fazia nos cursos de Filosofia, Pedagogia e Ciências Sociais. Os concluintes realizavam estágios em instituições especializadas com o intuito de habilitarem-se ao exercício profissional.
●O reconhecimento legal da profissão de psicólogo só ocorreria no Brasil em 1962. O começo da década de 60 seria marcado pelo modelo metodológico de diagnosticar e aconselhar, utilizando como instrumentos os testes psicológicos que auxiliavam na busca do autoconhecimento, influência de Rogers nos Estados Unidos, bem como a focalização da dinâmica do inconsciente, influência de Freud na Europa.
●Somente ao final da década de 1970, início dos anos 1980, que surgiu uma literatura voltada para a Orientação Profissional a partir de dissertações de mestrado e teses de doutorado em Psicologia. Vale assinalar que apenas na década de 80 a orientação profissional foi discutida enquanto processo no qual a escolha é multideterminada, em que a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico, e o coordenador, o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos (Abade, 2005).
●Em 1990, o ISOP foi extinto, e em 1993 foi criada a ABOP, Associação Brasileira de Orientação Profissional, considerada um marco para a área que consolida a identidade do orientado profissional em nosso país (Abade, 2005). Entre as principais realizações da ABOP, podemos destacar a organização e o apoio a eventos que mantenham relação com a orientação profissional, os cursos de formação, de especialização e extensão, objetivando, em suas ações, o desenvolvimento, a integração e a valorização do orientador profissional no Brasil.
A história da Orientação Profissional reflete as definições que ela pode assumir, bem como as diferentes teorias e métodos dos quais se utiliza. Três perspectivas são relevantes na Orientação Profissional brasileira: a psicométrica, a clínica e a psicossocial. a ciência não é produzida de forma alheia ao contexto político, social e econômico. a Orientação Profissional visava a analisar aptidões para melhor ajustamento do trabalhador ao trabalho, descobrindo na década de 60 a importância do autoconhecimento para a realização pessoal na profissão. O contexto político marcado pela ditadura, no entanto, não permitiu o desenvolvimento de Psicologia Clínica e contribuiu para que a Psicologia permanecesse restrita as perspectivas experimentalistas e psicométricas por muitos anos. Foi no início da década de 80 que emergiu uma perspectiva realmente clínica em Orientação Profissional, assim como novos questionamentos e posicionamentos diante da realidade social. A partir da década de 90, notamos que a Orientação Profissional tem sido enfocada em três diferentes perspectivas: a perspectiva psicométrica, a perspectiva clínica e a perspectiva que valoriza as discussões sobre o trabalho no modo de produção capitalista. Embora a Orientação Profissional estivesse presente em Departamentos de Psicologia Social quando foi definido o currículo mínimo do curso de Psicologia em 1962, somente na década de 90 identificamos trabalhos que abordam a Orientação Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social. O paradigma ecológico desenvolvido por Jorge Sarriera e a abordagem sócio-histórica proposta por Sílvio Bock e Ana Bock, configuram uma modalidade de Orientação Profissional baseada na Psicologia Social. Esperamos que a pesquisa que estamos desenvolvendo venha se somar a esses trabalhos configurando uma nova perspectiva em Orientação Profissional.
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